
Médica especialista em ginecologia e obstetrícia, Juliana Mariotti destaca que o tratamento médico aliado a uma mudança de hábitos são essenciais para aliviar sintomas e evitar doenças
O Dia das Mães, celebrado no próximo domingo (8), celebra a maternidade, o papel da mulher como ‘ser mãe’. Um papel que carrega muitas responsabilidades, muitas exigências.
Em meio aos cuidados com os filhos, a saúde da mulher muitas vezes fica em segundo plano.
Em entrevista a Rádio Cidade e ao Jornal O Alto Jacuí, a médica Juliana Mariotti falou sobre os principais problemas que as mulheres enfrentam hoje em dia.
Especialista em ginecologia e obstetrícia, Juliana destaca que os principais relatos que tem recebido em seu consultório são de fundo emocional, que envolvem ansiedade, depressão, cansaço, fadiga e dificuldades de retomar o que era feito antes da Pandemia, como atividades físicas.
O receio dos médicos é que esses problemas possam evoluir para problemas físicos, como o câncer e doenças degenerativas. Com o isolamento social, os exames preventivos deixaram de ser feitos, o que pode gerar futuramente um aumento nos casos de câncer.
“Quanto mais precoce diagnosticar melhor. Algumas pessoas deixaram de fazer, mas já estão voltando a procurar. Acredito que por agora não vamos ter grandes problemas, porque dois anos é um tempo pequeno para a evolução de alguns tipos de problemas”, explicou.
Um problema enfrentado pelas mulheres e que afeta diretamente as atividades do cotidiano é a chamada Tensão Pré Menstrual.
A Dra. Juliana explica que os sintomas da TPM são de sete a dez dias antes da menstruação, sendo os mais comuns a irritabilidade, o cansaço, sensação de depressão, vontade de comer doces, enxaqueca, dor nas mamas.
Esses sintomas são aliviados imediatamente com a chegada da menstruação, quando eles são cíclicos, ou seja, que acontecem em outros períodos do mês, daí não se caracteriza como TPM e deve ser feito um diagnóstico diferenciado.
"Às vezes a pessoa tem alguma outra patologia que piora com a TPM, mas que acontece em outros períodos, então não é pré-menstrual. Temos que ter um bom diagnóstico, avaliar até que ponto a TPM impacta na qualidade de vida, no trabalho”, observa a médica.
Os sintomas da TPM podem ser aliviados com diferentes tratamentos, entre eles a mudança nos hábitos, como o exercício físico, a diminuição da ingestão de cafeína, chocolate, e arbitrado. Em casos mais severos é recomendado medicamentos que bloqueiem os sintomas.
Uso do Roacutan
O Roacutan é um medicamento utilizado para a inibição das espinhas no rosto. Um medicamento extremamente forte que possui efeitos colaterais como ressecamento da pele, mucosa, sangramento no nariz e pode até afetar o fígado.
Dra.Juliana conta que o medicamento muitas vezes é solicitado pelas pacientes, mas que deve ser receitado por dermatologistas.
Segundo ela o Roacutan acaba por tratar somente o problema por fora, e não o que realmente causa as acnes, que podem ser inflamações, problemas hormonais, ovários policísticos.
Quando a candidíase pode estar relacionada a outro problema
Um problema comum enfrentado pelas mulheres, mas que ainda não possui uma cura 100%. Isso porque, a “Candida”, que dá origem ao nome Candidíase, é um fungo que está no organismo humano.
Dra. Juliana explica que não é algo que se pega, mas algo que está no corpo humano e que devido a um desequilíbrio na flora do intestino, quando a cândida aumenta de quantidade, ela acaba por se manifestar.
“Toda a mulher tem um certo grau de cândida vaginal, quando tem candidiase, tem a mudança do PH vaginal”, explica. A candidíase por repetição, que é quando ela aparece de forma frequente, em um pequeno intervalo, deve ser investigada com mais precisão.
Isso porque, pode estar relacionada a um possível quadro de diabetes, ao estresse, a algum problema hormonal.
“Quando é por repetição o buraco é mais embaixo, tem que avaliar o que está acontecendo, o fato de ter candidíase é sinal que o corpo não está equilibrado”, afirma.
Lesões no colo do útero
Outro problema muito conhecido mas permeado de dúvidas e diferenças, são as lesões no colo do útero. Segundo a Dra. Juliana o termo lesão é amplo, podendo ser uma cicatriz, uma alteração benigna ou maligna.
“Precisamos ser mais específicos quando falamos de lesões, pois tem lesões benignas no colo do útero que nunca vão causar problemas, e outras que podem ser cancerosas como as lesões por HPV, que precisam ser acompanhadas, tratadas”, explica.
Em alguns casos as lesões podem ser identificadas através do preventivo, mesmo que não de uma certeza 100% do problema, mas já pode ser identificado se há alguma mancha ou problema suspeito.
As lesões por HPV são as mais preocupantes e podem ser encontradas em diferentes graus, de alto grau quando pode virar um câncer de colo de útero. Dra.Juliana destaca que as lesões por HPV são pré-cancerosas, que quando diagnosticadas dão para fazer o tratamento e serem controladas.
Vaginose e endometriose
A vaginose e a endometriose também afetam as mulheres e são motivos de preocupação e desconforto. Quando se fala em vaginose, os casos são mais frequentes.
A médica explica que quando uma bactéria chamada gardnerella vai para a vagina, pode gerar corrimento e desconforto, precisando então de um tratamento com antibióticos.
Quanto à endometriose, difícil de ser diagnosticada, é um problema onde o endométrio não fica somente na camada interna do útero, se espalhando por locais como o ovário, bexiga e intestino.
“É uma inflamação crônica da pelve. Recebo pacientes com frequência com relatos. A endometriose gera uma dor pélvica e muitas vezes infertilidade, por isso muitas mulheres acabam descobrindo quando resolvem engravidar”, observa.
O tratamento da endometriose é diferente para aquelas mulheres que não tem filhos e para aquelas que já tem. Para as mulheres que já têm filhos o tratamento é hormonal, através da progesterona, onde a mulher não menstrua.
No entanto, a Dra observa que o tratamento é multidisciplinar e que envolve dieta, atividade física e o emocional.
“A mulher com endometriose tem que estar comprometida com saúde dela, não somente tomar o anticoncepcional contínuo, pois é uma inflamação e tem que ser tratada por outras formas também”, pontua.
O mioma uterino também é um problema que pode aparecer quando no organismo existe mais estrogênio que progesterona.
O mioma uterino é um nódulo que aparece no músculo do miométrio, em muitos casos é muito volumoso e causa sangramento disfuncional, exigindo tratamento e cirurgia.
Novos tratamentos para menopausa
Os novos tratamentos para a menopausa é uma área cada vez mais explorada e estudada pela Dra.Juliana. O fato das mulheres acreditarem que só precisam de tratamento e auxílio médico quando entram na menopausa, gera um sofrimento prolongado. Isso porque, existe um período que antecede a menopausa chamado de Climatério, momento em que as mulheres já começam a sentir os sintomas. “É muito importante que as mulheres procurem ajuda, pois elas estão vivendo mais e passam um terço da vida no período da menopausa. Elas podem procurar ajuda, manter a vida sexual ativa, não sentir calor, inqueitute”, explica.
A reposição hormonal e a modulação hormonal também são aliados desse período.. Dra. Juliana explica que a reposição hormonal é dar o hormônio que a mulher está precisando e que a modulação hormonal, é quando modula os hormônios. “Muitas mulheres acham que a reposição hormonal gera câncer, isso é mito. Tem muitas contra indicações sim, mas as mulheres acabam sofrendo sintomas muitas vezes por bobagem, por isso é importante conversar com os médicos”, observa.
Laqueadura e Histerectomia total
A laqueadura é o ligamento das trompas, um método contraceptivo definitivo para as mulheres.
Segundo Juliana, o procedimento é feito em situações quando a mulher já está na sua quarta cesária. Isso porque os efeitos colaterais são muitas vezes ruins, como o aumento no fluxo menstrual e até mesmo uma menopausa precoce.
“Temos tentado não fazer por conta dos efeitos colaterais, pois o que mais se observa é o aumento do fluxo menstrual que às vezes é difícil de controlar”. A retirada total do útero da mulher é chamada de histerectomia total.
Dra.Juliana explica que quando é retirado e mantém os ovários, continuam sendo produzidos hormônios, mas quando é retirado tudo naturalmente se entra em uma menopausa cirúrgica, sendo necessário a reposição hormonal.
Qual o melhor contraceptivo?
A resposta sobre o melhor contraceptivo depende de muitos fatores. Para a Dra.Juliana o melhor contraceptivo é o que a mulher se adapta. Isso porque existem inúmeras opções atualmente, como comprimidos orais, DIU, injeções, fitas, preservativos, implante subcutâneo que libera progesterona.