15 de Agosto, 2025 09h08mAgronegócio por Jardel Schemmer- Repórter Rádio Cidade 104.9

Do seminário à sala de aula: Paulo Konrad, o professor que fez do campo sua universidade

Médico veterinário e docente da Unicruz construiu uma trajetória que atravessa a lida agrícola e a pesquisa acadêmica

Criado no interior de Ibirubá, em uma família de nove irmãos, todos ainda vivendo na região, Paulo Artur Konrad carrega a simplicidade da roça e a visão ampla de quem percorreu longos caminhos para chegar à sala de aula universitária. Entre a ordenha das vacas, os anos no seminário, a suinocultura, o mestrado em Minas Gerais e a docência na Unicruz, construiu uma vida dedicada a unir teoria e prática, sempre com os pés no chão e o olhar voltado ao futuro do campo.

Quando Paulo fala de sua infância no Marco Grande, a lembrança vem com cheiros, sons e histórias. 
“Meu pai, Germano, e minha mãe, Lucinda, foram exemplos. Se pudesse nascer de novo, queria ser filho deles outra vez”, afirma. Na propriedade, todos ajudavam: plantar, colher, cuidar dos animais. A religiosidade marcante da família o levou ao seminário, onde viveu seis anos e estudou filosofia em Santo Cristo. “O seminário me deu disciplina, oratória e gosto pela música. Isso ficou comigo para sempre”, recorda.
De volta à propriedade, trabalhou intensamente na agricultura e na suinocultura, cuidando de 40 matrizes em ciclo completo. Mas uma seca severa e a necessidade de novos rumos reacenderam o desejo de estudar. Oito anos depois de sair do seminário, fez cursinho em Passo Fundo. Aprovado em Medicina Veterinária em Uruguaiana, abraçou a oportunidade, mesmo longe de casa. “Era uma região fantástica para aprender: cavalo, ovelha, bovinos de corte e de leite. Foi um curso muito rico.”
O estágio final o levou para a Embrapa Gado de Leite, em Minas Gerais. Ali, vivenciou uma realidade pecuária mais avançada e recebeu o convite para cursar mestrado na UFMG. A decisão veio com o conselho do pai: “Um cavalo encilhado passa só uma vez na vida. Se não montar, perde a chance.” Antes, precisou superar a prova de inglês, estudando manhã, tarde e noite durante duas semanas. Concluiu o mestrado focado em bovinocultura e suinocultura, experiência que ampliou ainda mais sua visão sobre o setor.
De volta ao Rio Grande do Sul, ingressou como professor na Escola Técnica Agrícola de Ibirubá (ETAJ), vivendo a transição para Instituto Federal. Lembra com orgulho daquele período: “Os melhores anos profissionais que tive foram no tempo da ETAJ. Ali formamos muita gente boa para a região.” Em 2013, a oportunidade de lecionar na Unicruz surgiu após a saída de uma professora. Assumiu a disciplina de suinocultura e logo ganhou espaço pela abordagem prática. “Antes de ser professor, fui produtor. Isso muda a forma de ensinar.”
Na Unicruz, firmou parcerias importantes, como a com a Vence Tudo, que cedeu máquinas para a área experimental de agronomia. Viu a universidade conquistar nota máxima no MEC e defende que prefeituras da região ofereçam bolsas, como faz Cruz Alta. “Isso ajudaria a manter a instituição forte e acessível.”
Paulo também fala dos desafios do campo: a perda da suinocultura integrada em Ibirubá por questões logísticas, a redução do número de produtores de leite e as dificuldades da sucessão familiar. “Se o jovem não recebe espaço para empreender, desanima. E sem uma atividade que gere renda mensal, pequenas propriedades perdem viabilidade.”
Mesmo com a rotina acadêmica, mantém a ligação com a produção. Na propriedade da família, investiu no cultivo de morangos em estufa, chegando a 10 mil pés. “O morango exige cuidado diário, mas é gratificante ver o resultado. A presença do produtor é o que garante qualidade.”
Conhecido pelo bom humor, leva esse traço para a sala de aula. Costuma propor desafios aos alunos, como responder corretamente questões-chave sobre nutrição de suínos para ganhar um porco no rolete e um barril de chope — prêmio que, em mais de 50 turmas, nunca foi conquistado integralmente. “Ensinar com exemplos e descontração ajuda a fixar o conteúdo.”
Para ele, ser professor é mais que transmitir conceitos: é acompanhar o desenvolvimento humano dos alunos. “É gratificante ver um aluno se formar e agradecer pelo investimento que os pais fizeram.”
Aos 22 anos de magistério, Paulo segue na estrada para lecionar. “Convivo com jovens, vejo a vontade que eles têm de crescer. Isso me mantém jovem também.”
E a simplicidade de quem nunca esqueceu as origens: “A melhor herança que um pai pode dar a um filho é a oportunidade de estudar. Ninguém tira isso da gente.”

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