
Com fala franca e realista, Leonir Fior expõe as dificuldades enfrentadas pelos pequenos agricultores e critica os entraves que impedem a efetivação das políticas públicas anunciadas, como juros elevados, prazos curtos para renegociação de dívidas e insegurança diante dos altos custos de produção.
A promessa é bilionária, mas o solo onde ela deve germinar está infértil — não pela terra em si, mas pelo desânimo e pela dívida acumulada que sufocam o agricultor familiar. O Plano Safra 2025/2026 chegou com o anúncio de R$ 89 bilhões para fortalecer a agricultura familiar no Brasil. Na prática, porém, o cenário descrito pelo presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Ibirubá, Leonir Fior, é de empobrecimento, incerteza e falta de acesso real ao crédito rural.
Segundo Fior, muitos agricultores da região não têm mais condições de buscar financiamento.
“É difícil. Muitos agricultores não têm mais capacidade de pagamento. Eles não conseguem mais recurso no banco para financiar a lavoura. Se não quitar a dívida, não vão conseguir plantar”, lamentou.
A avaliação é de que o anúncio, embora necessário, chega tarde para quem já perdeu poder de investimento após safras frustradas e preços achatados.
Outro ponto sensível está na execução orçamentária. “Sempre é anunciado o Plano Safra, mas nem todos os recursos são executados. Muito recurso é destinado para outros setores”, criticou.
Para ele, o que falta não são leis ou programas, mas sim a garantia de que os valores prometidos de fato cheguem à ponta, com segurança, agilidade e juros compatíveis com a realidade do produtor familiar.
Os custos elevados de produção são outro fator que coloca em risco o plantio da próxima safra. “ Está se colocando menos adubo, menos ureia, menos fungicida. Você já vai colher menos. Isso empobrece a terra”, explicou Fior.
A prática de reduzir insumos por falta de crédito compromete diretamente a produtividade e acentua ainda mais o ciclo de endividamento. “O agricultor sempre foi um bom pagador. Mas não está conseguindo pagar por causa das frustrações de safra e dos preços baixos dos produtos. Não é má vontade, é realidade.”
Sobre as taxas de juros, Fior se mostrou apreensivo. O aumento das taxas no Pronaf (de 6% para alguns contratos) somado ao encarecimento dos insumos e à insegurança com o clima tornam o investimento um risco alto. “Está cada vez mais difícil acreditar que o pequeno vai conseguir manter sua atividade sem apoio concreto.”
O sindicalista também criticou os prazos apertados para renegociação das dívidas já contratadas. “Muitos produtores não conseguiram sequer preparar a documentação no tempo exigido. Quando tentaram renegociar, já havia vencido o prazo. Como o governo exige que se pague algo que o produtor não teve como colher?” Segundo ele, falta sensibilidade nos critérios de análise e uma política mais ajustada à realidade do interior do estado.
Fior lembrou ainda que a base da alimentação do brasileiro é garantida pela agricultura familiar, que produz mais de 70% dos alimentos que chegam à mesa. “Quando você sufoca esse setor, o país todo sente. Não se trata só do produtor rural — é o feijão, a batata, a verdura, o leite. Tudo isso vem das pequenas propriedades. Se o pequeno parar, o desabastecimento será inevitável,” finaliza.