16 de Junho, 2025 09h06mReligião por JORNALISTA CRISTIANO LOPES

O perfil religioso do Alto Jacuí e suas transformações segundo o censo 2022

Levantamento revela mudanças significativas na fé dos moradores de Quinze de Novembro, Selbach e Ibirubá

Com base nos dados dos Censos Demográficos de 2010 e 2022, é possível acompanhar como a religiosidade tem se transformado nos municípios do Alto Jacuí. As mudanças não dizem respeito apenas à quantidade de fiéis, mas ao surgimento de novas expressões de fé e à queda de hegemonias históricas. Em Quinze de Novembro, por exemplo, os evangélicos representavam quase 80% da população em 2010. Já em 2022, a proporção caiu para 68%. O cenário é plural, e a fé dos moradores segue em movimento.

Ao longo da última década, os dados do IBGE revelam uma tendência que, embora discreta em números absolutos, é profunda em significado: a pluralização do perfil religioso no interior do Rio Grande do Sul. As cidades de Quinze de Novembro, Selbach e Ibirubá ilustram essa transição.

Em Quinze de Novembro, a fé evangélica (especialmente luterana) sempre foi predominante. Em 2010, os dados detalhados mostram que o total de evangélicos somava cerca de 79% da população, com destaque para a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), que sozinha reunia 2.394 pessoas. Já os católicos somavam apenas 1.115 pessoas — cerca de 13% da população. Essa proporção é incomum no cenário brasileiro e evidencia a força da colonização germânica na formação religiosa local.
No entanto, o Censo 2022 aponta uma queda proporcional dos evangélicos, que agora representam 68,46%. A população católica ficou em 28,82%, e surgiram pequenos, mas relevantes, percentuais de outras crenças: 1,15% declararam seguir religiões de matriz africana, 0,40% o espiritismo e 0,63% afirmaram não ter religião. Embora o número absoluto de evangélicos possa ter crescido, o crescimento populacional e a entrada de novas manifestações religiosas diminuíram sua participação relativa. É possível afirmar que a hegemonia evangélica, embora ainda majoritária, já não é absoluta.

Em Selbach, o predomínio católico se manteve estável. Em 2010, os católicos somavam 4.381 pessoas (cerca de 81%), enquanto os evangélicos luteranos e missionários totalizavam 548 pessoas. Em 2022, a religião católica subiu para 85% da população. Evangélicos somam 14,49%, enquanto religiões de matriz africana (0,04%), espiritismo (0,31%) e sem religião (0,11%) aparecem de forma residual. A cidade mantém sua estrutura religiosa tradicional, influenciada fortemente pela presença italiana e pelo catolicismo popular.

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Ibirubá, por sua vez, apresenta um retrato mais equilibrado e em transição. Em 2010, os católicos eram maioria absoluta, com 12.100 pessoas (cerca de 61%). Os evangélicos (somando IECLB, pentecostais e missionários) ultrapassavam 6.700 pessoas — cerca de 34%. Já em 2022, os católicos representam 56,13% da população, enquanto os evangélicos chegam a 36,16%. As religiões espíritas (1,46%) e de matriz africana (1,01%) também avançaram, e 2,52% dos ibirubenses declararam não ter religião.
Esse movimento de aproximação entre católicos e evangélicos em Ibirubá revela uma convergência que pode se intensificar nos próximos anos, especialmente com o crescimento de denominações pentecostais e a diversificação das experiências religiosas. A presença de terreiros, centros espíritas e comunidades sem filiação institucional também tem crescido discretamente.

A história das religiões afro-brasileiras em Cruz Alta

Com a presença de africanos escravizados em propriedades rurais da antiga Vila de São João Batista de Cruz Alta, práticas como a umbanda, o batuque e rituais de candomblé começaram a se manifestar nas periferias urbanas e nas comunidades do campo.
Durante décadas, essas expressões religiosas resistiram à repressão, ao preconceito e à marginalização. Os terreiros funcionavam de forma velada, muitas vezes associados a práticas de cura, benzeduras ou festas sincréticas. Com o passar do tempo, a herança cultural afro-brasileira foi ganhando força, reconhecimento e presença institucional — especialmente nas últimas três décadas, com a atuação de lideranças religiosas e movimentos sociais.
Hoje, Cruz Alta é reconhecida por sua comunidade religiosa diversa, com dezenas de terreiros e centros espalhados pela cidade. Datas como o 20 de novembro (Dia da Consciência Negra) e o 2 de fevereiro (festa de Iemanjá) são celebradas com força, reforçando que espiritualidade também é identidade e memória.

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