26 de Setembro, 2025 10h09mAgronegócio por REDAÇÃO INTEGRADA

Agro gaúcho enfrenta cenário crítico após quebras de safra, mas há sinais de retomada

Em 2026 podemos sim ter um novo cenário diz analista.

Especialista aponta descapitalização como principal entrave ao produtor e projeta cenário mais favorável para 2026, desde que haja apoio político e climático

Após cinco anos consecutivos de frustrações climáticas, o agronegócio no Rio Grande do Sul vive um dos seus momentos mais desafiadores. A combinação de secas severas, enchentes e a dificuldade de acesso ao crédito criou um cenário de forte descapitalização do produtor rural. Apesar das dificuldades, há sinais de esperança. Essa é a análise de Márcio Ücker, que concedeu entrevista exclusiva para traçar um panorama completo da situação.

“Hoje o principal problema do campo é a falta de capital. O produtor está descapitalizado, sem condições de investir em tecnologia ou sequer manter o nível de produtividade que já teve”, afirmou Ücker. Segundo ele, a ausência de recursos financeiros afeta diretamente o uso de insumos e tecnologias modernas, fundamentais para sustentar o setor.

Cenário climático: La Niña deve impactar até janeiro

Márcio destaca que, além das questões financeiras, o clima segue como fator determinante. Com base nos dados de sua estação meteorológica instalada no interior de Ibirubá, ele aponta que as condições do Pacífico Equatorial indicam a formação de um novo episódio de La Niña, o que significa maior probabilidade de seca na Região Sul até pelo menos janeiro. “A leitura mais recente indica -0,5ºC nas águas do Pacífico. Isso caracteriza La Niña. Ou seja, devemos ter deficiência de chuvas até o fim do ano. A esperança é que a neutralidade volte a partir de janeiro, como ocorreu em 2021, quando tivemos uma safra excelente”, projeta.
Produção nacional versus realidade gaúcha

Enquanto o Brasil comemora mais uma safra recorde, o Rio Grande do Sul segue patinando. “O Brasil vai ter grão, e isso derruba os preços no mercado internacional. Mas aqui, a realidade é outra: quebra de safra e endividamento em massa”, lamenta. Segundo Ücker, o Estado terá redução de área plantada e menos investimentos em tecnologia nas lavouras, o que deve impactar negativamente a próxima safra de verão.

Inverno traz alívio com trigo e canola

Apesar do contexto difícil, a colheita de inverno aparece como alento. “A canola teve aumento de mais de 30% na área plantada no Estado. Tivemos preços bons, entre R$ 146 e R$ 150 a saca, e o clima foi muito favorável até aqui. Se o produtor conseguir colher sem intempéries, vai entrar o fim de ano com renda garantida, o que é um fôlego”, explica.

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Ücker defende a diversificação das atividades como estratégia para garantir renda. “O leite, por exemplo, é receita mensal. Mas muitos saíram da atividade quando a soja bateu R$ 200 a saca. Hoje, estão reféns da monocultura e sem capital para retornar à pecuária”, aponta.

Crédito: entrave estrutural e político

A dificuldade de acesso ao crédito é outro gargalo. Segundo o consultor, o novo Plano Safra está distante da realidade da maioria dos produtores. “Estamos a 20 dias do plantio e menos de 30% dos produtores conseguiram acessar os recursos. Há um nó entre governo e bancos. E a inadimplência está altíssima”, denuncia.

Ele critica a demora do governo federal em viabilizar a securitização das dívidas. “O PL 5122 avançou no Congresso, mas travou no Senado. A MP 1314 prevê o alongamento das dívidas com até nove anos para pagar, mas com recursos limitados. O RS precisaria de pelo menos R$ 30 bilhões, e o governo oferece R$ 12 bilhões”, resume.

Tecnologia e bioinsumos: esperança no médio prazo

Ücker acredita que o futuro do agro passa pelos bioinsumos e pelas tecnologias sustentáveis. “Produtos biológicos vêm ganhando espaço. A indústria sabe que muitos químicos perderam efeito. O investimento em inovação está grande, e isso deve mudar o cenário nos próximos anos”, afirma.
Ao final da entrevista, Márcio deixou uma mensagem de otimismo: “Se o clima ajudar e o governo fizer sua parte, o produtor vai dar a volta por cima. O agro sempre foi resiliente. Em 2026, podemos sim ter um novo cenário — desde que com planejamento, apoio e responsabilidade”.

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